APARTAMENTO CURVAS, 386 M2

NOVas HISTÓRIAS

eU MORARIA AQUI

Jornalista: Posso dizer que este apartamento é completamente Felipe Carolo?

Felipe Carolo: Eu faço a casa para quem vive a casa. No entanto, se considerarmos as escolhas que resumem um pouco a minha identidade – predomínio do branco, muita madeira, materiais naturais – este projeto é inteiramente Felipe Carolo sim. 

E eu preciso entrar na casa do meu cliente e falar: eu moraria aqui. Se eu moraria aqui e aquela pessoa está feliz com o que ela recebeu, ela vai se sentir confortável. 

Jornalista: Aqui não me parece ter herança afetiva, que é a sua área de conforto. Como são as suas escolhas neste caso?

FC: Este é um apartamento de um jovem casal recém-casado. Realmente não trouxeram herança afetiva e, a história que eu busco contar por meio da decoração, neste caso, faz parte da trajetória dos dois juntos e, dos gostos de cada um individualmente. Assim, procuro trazer identidade, aconchego e realizar os desejos para este espaço compartilhado pela primeira vez.

Jornalista: Quais foram os principais desejos realizados aqui?

FC:  Como em quase todos os projetos, o conceito inicial é baseado nos desejos do cliente. Quando eles chegaram até mim, vieram com referências dentro das tendências. Eu trabalho com tendências, porém, eu procuro sempre orientar sobre as consequências dessas escolhas em todos os aspectos, principalmente dentro da durabilidade e identidade do projeto. Assim, as alterações que fizemos os fizeram gostar ainda mais do resultado. 

Então, posso dizer que todos os desejos foram atendidos. Nas escolhas pontuais, são quase certas as adaptações à harmonia, à durabilidade e, portanto, à atemporalidade, e, ao orçamento.

Eu gosto de explicar os porquês de cada escolha, o conceito da estética por trás de cada opção. A moda nem sempre é o melhor caminho, por mais que o cliente queira. Essa atemporalidade foge de um tempo marcado e faz o projeto ser mais autoral, mais personalizado. Você faz uma casa com cara de casa

  • Conversando com a cliente, eu descobri que ela não anda descalça nunca. Se ela coloca os pés no chão, tem que ser algo confortável. E dentro disso, a madeira é gostosa de pisar, é aconchegante. Ela me pediu uma casa prática. E ele é mais dos detalhes, do alinhamento, virginiano. 

    Na confluência de estilo dos dois para a escolha do mobiliário, eu considerei a experiência dela e dele nos Estados Unidos, já que ambos tinham vivido em Nova Iorque. Assim, eu brinquei com os materiais. Coloquei muito metal, um pouco de vidro, transparência, madeira com parcimônia, para não ficar demais com o piso. Fui fazendo essa grande mescla para construir a história do casal.

Jornalista: Quais foram essas adaptações?

FC: Quando a gente repensou o projeto, eu trouxe a coisa do branco em vez do bege da moda nas paredes e, da amplitude que eu acho que o branco traz. Um ambiente neutro para você ir montando com o tempo. 

Jornalista: O que foi único neste projeto?

FC: Este é um imóvel com uma varanda extensa que, a princípio, eles queriam deixar aberta para ter a sensação de área externa. Porém, o apartamento fica no 25º andar, com uma vista 360 graus, e com muito vento. Além disso, há muita curva na planta com espaços que demandam soluções criativas para serem trabalhados. A varanda é uma semicircunferência. E há uma outra área curva próxima à churrasqueira com uma confluência difícil. 

Para eu resolver esta área, propus fechar a varanda e fazer um bar que pegasse a área interna e a externa virando um jardim. Eles adoraram e mudamos a direção.. 

Jornalista:  A sala de TV também fica em um espaço curvo.

FC:  Sim, eu tive que abraçar essa planta e criar espaços que tivessem uso, que não ficassem mortos na casa. Esta foi uma escolha também do cliente que fez uma consultoria com uma radiestesista e feng shui e, este foi o espaço crítico detectado – e o maior desafio neste projeto.

Jornalista:  O feng shui te direcionou em outros momentos?

FC:  Não vou dizer que me direcionou, mas eu optei pela linearidade em todo o apartamento. E dentro disso, coloquei portas de correr que podem ser totalmente recolhidas. Ou seja, você anda pelo apartamento inteiro sem o abre e fecha de portas, há uma sensação de circulação e fluidez muito boa. E isso para o feng shui é bom também. Você cria uma circulação de energia bárbara. 

  • Na ponta da varanda, onde é meio fechada e meio aberta, eu fiz um grande jardim de onde sai o bar e, no meio do jardim, a sala de televisão. Quando eu faço o projeto junto da paisagista, eu escondo o elemento que não é natureza com plantas. Então você entra e tem aquela a vista do verde, da Serra da Cantareira, e ele invade a área interna, escondendo o prédio que está grudado.

    Além disso, a escolha do móvel que eu criei para a TV foi justamente para integrar os espaços quando o casal quiser receber amigos para assistir a jogos ou a programas do tipo. O móvel é solto e a TV “vira” na direção que quiserem.

Jornalista:  O espaço dos ambientes foi delimitado por meio do mobiliário?

FC:  Exatamente. O cliente queria fracionar o piso, mas eu sugeri uma escolha de mobiliário com cara de área externa para a varanda, por exemplo. Este bar foi a grande sacada, ele também divide os ambientes.

Na área interna, uma das coisas que me guiou foi a estante na entrada da sala. Você entra, vê uma grande estante de vidro do escritório e, ao lado, tem o living,

Jornalista:  Como foram as escolhas de mobiliário para o living?

FC:  Uma das preocupações era o desafio de fazer um apartamento de quase 370m2 ser ocupado inteiramente por um casal. Então, pensamos no presente e no futuro. Neste momento, comecei o living por um sofá principal em L com encosto que faz as vezes de banco. É ideal para receber amigos para um bate-papo. 

E quando eu integro a varanda na sala, eu estico esse living, mas faço uma coisa meio outdoor – eu ponho uma lareirinha, uma poltrona com pufe para leitura e para admirar a vista. 

Tem também poltronas que eu escolhi, poltronas leves de carregar. Porque você vira para a vista quando estiver com mais gente ali e, de repente, vê o Pico do Jaraguá. Esses são lugares que precisavam ser explorados.

E mais uma vez delimitei o espaço da sala de estar com a sala de jantar por meio de um móvel. Desta vez foi um móvel funcional, porque eles adoram receber. Então, serve para armazenamento também. É um móvel sueco antigo, da USM, de uma serralheria que começou a crescer há muitos anos e, quando começaram a expandir, cresciam os móveis em módulos. E isso é ótimo, porque assim você faz diversos usos de uma única peça. Aqui, a escolha foi em branco, vidro e transparência, cheios e vazios como a estante do escritório. Lá, a estante divide o escritório da sala. Aqui, o móvel divide a sala de estar da sala de jantar.

Jornalista:  E há mais divisões sutis nesta grande área integrada?

FC:  Há um pórtico que divide a sala de jantar do jardim. Eu fiz esse pórtico na altura dos forros para fazer uma caixa. E esta caixa tem uma parte curva para trazer acolhimento. Você está no jardim com sala de TV e ao lado tem um bar que fica ao lado da sala de jantar. Mas você também pode assistir a um jogo dali se quiser. Essa foi a ideia. 

Jornalista:  O escritório também está integrado?

FC:  Eu derrubei a parede que separava a primeira suíte da sala e fiz uma estante reta só com cheios e vazios, com tela tensionada e vidro. É possível ver o escritório – está e não está integrado. Há certa privacidade para os dois que são advogados trabalharem de casa também.

Em caso de visitas rápidas, um sofá-cama complementa o espaço e atende além da ocupação do quarto de hóspedes. 

Jornalista:  A suíte do casal recebeu uma atenção especial...

FC:  A suíte do casal é um acontecimento! São 80m2 onde você entra e tem um corredor largo com um closet e, no fundo, estão as duas duchas. Você pode tomar banho junto e sozinho. Busquei o clima e a sensação de hotel aqui. 

Para posicionar a cama, eu considerei a vista do quarto. Há uma poltrona ao lado e, uma estante bonita para, de repente, fazer uma chamada de vídeo dali mesmo, considerando as necessidades da vida contemporânea.

A varanda é repleta de plantas e tem uma rede confortável a pedido do cliente.

Jornalista:  Qual foi o futuro pensado?

FC:  Quando você pensa em um casal jovem, você pensa que eles vão receber amigos. Em algum momento eles vão virar família. Quando eles viram família, o apartamento deve estar preparado para crescer, para a família crescer. E meus clientes têm essa ambição, não para agora, mas daqui a alguns anos. Então, pode ser tudo integrado, mas depois precisa estar tudo fechado. Eu deixei a sala de almoço com uma porta que parece uma parede com 3,5m, uma porta de correr enorme, que se esconde, e que integra a área da churrasqueira, barra a sala de almoço com a área social da casa.

Além disso, deixamos uma das suítes com a marcenaria pronta para adaptar ao quarto do bebê que virá.

Jornalista:  Este hall de entrada é especial...

FC:  Eu falei para ele que achava necessária uma surpresa dentro da arquitetura. E esta surpresa ficou para a entrada com o teto elevado, uma tela tensionada que recebe luz como de uma claraboia. Elegante e agradável. 

fotos: Ruy Teixeira

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