APARTAMENTO BALTAZAR, 205m2

casa franco-brasileira

Jornalista: Preciso começar pelo início! Esta entrada já recebe muito bem...

Felipe Carolo: Essa foi a intenção com a escolha a dedo da obra de Igor Romualdo. Os pavões coloridos me encantaram e eram tudo o que procurava para essa chegada à minha casa. Gosto de arte brasileira que retrate a fauna e a flora. E essa profusão de cores resume o lugar que me encontro hoje na arquitetura de interiores: o branco com cores pontuais. As obras de arte fecham essa proposta perfeitamente. Além disso, escolhi o tapete de lã de carneiro, fofinho, para chegar já pisando nas nuvens. O banco veio da varanda do meu apartamento anterior, que eu mandei fazer.

Gosto
de arte
brasileira
que retrate
a fauna
e a flora.

Jornalista: Antes de entrarmos no living, me conte um pouco sobre o encontro com este imóvel.

FC: Acho que foi isso: um grande encontro. Eu resolvi sair do apartamento anterior quando comecei a namorar e a dividir o espaço. Achamos que era o momento de um novo endereço e, a ideia de tirar o escritório de casa calhou com o fim da pandemia da Covid-19 e o aumento da minha equipe. Foi uma necessidade pessoal e profissional.

  • Procuramos por um imóvel espaçoso como o anterior e, chegamos a este em um prédio neoclássico. Não foi muito tranquilo para um arquiteto formado na Escola Paulista e super ligado ao concretismo. Eu procurava algo em algum prédio do Artacho Jurado, era louco para morar em um deles. Mas aí apareceu um (Adolpho) Lindenberg...

Jornalista: E como foi essa mudança tão abrupta?

FC: A gente queria um imóvel que tivesse iluminação natural, uma vista, a inegociável varanda, além de estar localizado em um bairro com tudo ao nosso alcance a pé, para sairmos com os nossos cachorros sem depender de carro. Este apartamento respondia a todos os desejos. Além disso, o pé direito de 3m era ótimo, havia a vista para a copa das árvores, ou seja, tinha verde em uma área da cidade onde os prédios costumam ser muito próximos uns dos outros. O edifício é da década de 1970, um dos primeiros do Lindenberg. Havia um porquê naquele neoclássico, não fugia completamente dos meus conceitos arquitetônicos. 

  • Quando conheci a história da concepção da planta e descobri que foi feita por uma francesa, ou seja, havia muita influência do estilo europeu daquela época, vi a história que iria contar na minha casa. Eu, que já estava em um “momento francês” nos meus desenhos, abracei a inspiração, porque trabalho o interior considerando a história do imóvel. Estava aí o meu projeto.

Quando me mudo
de casa, gosto
de começar
uma nova história.

Jornalista: Por onde você iniciou? 

FC: Quando me mudo de casa, gosto de começar uma nova história. Neste caso, começávamos em dois, então, eu levei poucas coisas do meu apartamento anterior. Além disso, a planta deste apartamento é quadrada, o que me fez começar pelos tapetes, já que os antigos eram retangulares. Isso na decoração, porque eu fiz uma atualização completa da hidráulica e da elétrica. E posso dizer que a cozinha foi o meu ponto de partida.

Jornalista: Quais foram as principais transformações na cozinha?

  • kasher com duas pias e um layout ruim, grande, mas dividida em dois espaços – sala de almoço e de preparo. Os armários com fundo de madeira estavam muito velhos, então fui tirando tudo.

    Eu queria uma cozinha bem equipada, gostamos de cozinhar e de receber os amigos na cozinha. Por isso, optei por uma ilha e, por ser também um local de encontro, o cooktop com a coifa ficaram no canto. Coloquei dois lustres legais sobre a bancada de mármore claro, banquetas e banco, tudo bem branquinho. É uma cozinha clássica e contemporânea.

Jornalista: Este living ficou lindíssimo!

FC: Eu tenho um apreço grande por áreas para receber, adoro fazer living!  E, por mais que eu nunca faça um projeto de layout para a minha casa, eu sabia que queria uma disposição de galeria para a sala principal.

Jornalista: Como foram as escolhas para a sala de estar?

FC: A primeira delas foi o sofá curvo com a inspiração francesa para fazer essa sala central com circulação perimetral. Tinha que ser branco e, como não o queria de costas nem para a entrada e nem para a varanda ou a sala de jantar, resolvi com as costas para a sala de TV, mais privada e completei com um aparador também curvo de madeira que eu desenhei. A ideia era vestir essas costas, ser um detalhe elegante que abrace o sofá. Sobre ele, uma escultura em ródio negro da Claudia Moreira Salles. 

  • preto das cortinas, os pufes do Jorge Zalszupin e o móvel que eu desenhei para a televisão na sala de TV também com ferro preto. Quando fui escolher o mobiliário do living, sabia que teria madeira, porque eu amo madeira, mas que já bastava de ferro preto. 

Jornalista: Houve nãos nesse direcionamento?

FC: Eu gosto da mistura de estilos, de materiais. Quis uma cortina que emoldurasse a janela e que ficasse como um xale leve, para a luz entrar. Escolhi um tecido bem fininho, uma gaze de linho, que permite esse efeito e que ao mesmo tempo traz conforto e sofisticação. E não tem nada mais bonito do que aquele movimento, quase uma dança das cortinas quando bate o vento. Quis os varões curvos de ferro preto, o que me deu um pouco de trabalho, mas muita satisfação com a delicadeza do resultado.

Jornalista:  E as escolhas foram precisas, porque são todas peças harmônicas entre si.

FC:  Na ideia de galeria, fui atrás dos móveis com pensamento de curador mesmo. Queria um layout com fluidez e as escolhas precisavam dessa comunicação. Além do sofá curvo, que permite que cada um se sente em uma ponta e esteja de frente e não de lado, procurei por poltronas que possibilitassem a interação no espaço

  • uma Katinsky da década de 1970 e escolhi uma cromada na cor creme. Eu precisava de mais uma poltrona ao lado e meu marido se encantou por uma Pollok. É design americano, com esse quê meio casa, meio escritório, mais atemporal. Fugia da concepção de casa brasileira com design brasileiro que eu buscava, mas encaixou perfeitamente. As duas são em couro, cromadas e com detalhe em madeira, apesar da diferença de altura e de assento. Parte do layout estava aqui.

    A terceira poltrona foi a mais difícil. Acho que quando uma sala começa a ficar muito grande, ela precisa de cantos. Um cantinho para você conversar a dois e tal. Quando você tem uma sala muito espaçada, você começa a perder essa coisa da intimidade, do aconchego. Mais uma vez atrás de design brasileiro, começo a pesquisar e, quando leio o livro do Lafer – Percival Lafer: Design, Indústria e Mercado –, me encanto com a MP-97, de 1970.  Eu encontro uma peça em um antiquário, restauro, uso o verso do couro mostarda, e trago para casa feliz como uma criança! 

Jornalista: As decisões para a iluminação também têm esse toque preciso.

FC: Volume, movimento, direção, assim fui escolhendo os lustres. Deixei um grande e adicionei pontos de luz na sala. Não gosto de forro de gesso e, se o colocasse, perderia as molduras originais que eram mais interessantes.

O lustre branco, que dança no teto, é o Vertigo, da francesa Constance Guisset, feito de aço carbono e vinil. Fica bem discreto com a luz acesa ou apagada. A luminária de latão é herança afetiva. E o abajur verde é da Maison Aracaju, de dois franceses que desenvolveram a marca aqui no Brasil. Um ponto de cor que fez diferença.

Jornalista: O canto do bar parece que foi feito para ele…

FC: Este bar é herança afetiva e um dos poucos móveis que trouxe do apartamento anterior. Foi do meu avô, que começou a vida como lenhador e mandou fazer o mobiliário para a casa dele no estilo Luís XV, quando se casou com a minha avó, na década de 1930. Então, é muito especial. E sim, encaixou nesse canto perfeitamente. Este vaso, sobre o móvel, é da Paula Juchem, todo em bolinhas para trazer um pouco de alegria ao lado do abajur branco.

Jornalista: A sala de jantar também é construída com herança afetiva?

  • FC: Apesar de gostar mais de mesa redonda, não conseguimos desapegar do buffet e desta mesa de jantar, que também foram do meu avô. Há muita história, além de serem móveis com data de fabricação e o nome do carpinteiro gravado nas peças. Para atualizar um pouco, troquei as cadeiras com encosto alto por essas – a Orquídea da Rejane Carvalho Leite, e a Cesca, com palhinha, do Marcel Breuer. 

    O paisagismo é do Studio Clariça Lima, os vasos em terracota para as bananeiras eu trouxe do sul de Minas e, que para mim, têm recordações de infância, além de serem de uma brasilidade super atemporal. Eu precisava quebrar um pouco da seriedade dos móveis antigos de uma maneira leve. E assim, junto dos lustres Prumus, Mel Kawahara, ficou equilibrado e harmônico o meu quadro de fundo do living. 

Jornalista:  Como foram as escolhas para as obras e objetos expostos?

FC:  Uma das coisas que eu acho mais divertidas é montar parede de quadros. Se você muda um quadro de lugar, já muda o olhar sobre o espaço. As principais escolhas aqui foram: uma das xilogravuras da série Pássaros, de Santídio Pereira, que veste a parede do living, o quadro Pessoas, do João Pina que eu amo e comprei para o apartamento anterior, e a escultura da Jacqueline Terpkins em branco que eu coloquei entre o verde da varanda.

  • Na mesa de centro, que eu desenhei, as cabaças. Desde que fomos à Caraíva, de férias, eu falava que queria um colar de cabaça. Meu marido, encantado com o artesanato indígena Pataxó, trouxe um banco divertido com formato de jacaré. Voltamos e eu fiquei esperando o meu momento. Um domingo eu fui à feira, no bairro, e, do nada, durante uma parada para um pastel e caldo de cana, avistei uma barraca com o colar. Pronto, voltei com o último toque para a casa nova. Último até ali, porque a casa muda com a gente e eu adoro esse movimento.

Cada objeto em nossa casa conta uma história, desde as cerâmicas sobre as prateleiras, cada uma de um momento e de um lugar, até a nossa coleção de copos e taças. gosto de objetos com porquês.

fotos Ruy Teixeira

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