APARTAMENTO HIGH LINE, 215 m2

casa biblioteca

Jornalista: Entrar aqui é como esticar a visita ao bairro e às galerias...

FC: Essa foi a ideia ao idealizar este projeto. Além da inspiração das linhas do High Line, logo abaixo do apartamento, estamos no Chelsea, um bairro conhecido por suas galerias de arte em Nova York. Brinquei e trouxe isso para dentro do espaço - decidi fazer uma casa com ares de art gallery.

A praticidade e a funcionalidade foram os pilares deste trabalho inspirado também, claro, nos moradores e no seu estilo de vida. A proposta foi criar um ambiente de exposição do mobiliário, buscado em uma grande curadoria para garantir design e conforto, dos objetos de colecionismo que eles adoram, e do acervo literário do cliente, que precisaria se encaixar harmonicamente no espaço sem ser o foco principal. Os livros precisavam entrar de maneira leve na decoração, pertencentes à estética criada.

A ideia foi criar um ambiente de exposição do mobiliário assinado, buscado em uma grande curadoria para garantir design e conforto

Jornalista: Esse foi o maior desafio?

FC: Com certeza os livros foram o maior desafio. Quando me vi precisando de 150m lineares para todos os exemplares eu falei: ops! Eu preciso encaixar isso. Essa foi a única bagagem da família na mudança do Brasil para os EUA – 4mil livros, ou, 2,8 toneladas. Como os meus projetos têm essa coisa do branco, são mais claros, eu queria informação e cores nos livros. Montar uma biblioteca convencional em um único ambiente denso não era opção.

A ideia da biblioteca horizontal foi trazer fluidez ao espaço e, para isso, eu precisava de reforço na estrutura necessária. Tive que abrir todas as paredes do apartamento e revesti-las em madeira, já que eram em drywall. Optei por estantes finas e branquinhas inspirado nas linhas do High Line. Resultou em uma dança de prateleiras por todo o apartamento.

Jornalista: Há livros por todos os ambientes?

FC: Todos, até no banheiro. E, com exceção do escritório, onde ficam os exemplares de trabalho do casal, a separação dos livros para cada um dos cômodos foi sugestão minha. O destaque ficou para os pockets no foyer e uma coleção linda da Mafalda da década de 1970, herança de família, na sala de TV. Ao lado da banheira, a coleção do escritor importante para todos os moradores da casa.

Jornalista: E como se deu a escolha do mobiliário?

FC: Por ser um cliente que eu já atendia, que eu havia construído uma relação mais próxima de diálogo e intimidade, conhecia os hábitos e gostos para a construção da casa. E, mesmo o pedido sendo para não irem a uma só loja comigo, as resoluções foram fáceis, já que eu sabia da importância da leitura e da necessidade de poltronas e áreas com boa iluminação por todos os ambientes - prioridade.

O casal trabalha em casa, por isso, também trouxe essa preocupação com conforto e necessidades específicas para quem faz reuniões e entrevistas a distância. 

Jornalista: Este mobiliário é bem especial. Quem assina?

FC: São diversos designers. Quando estou no Brasil, gosto de trabalhar com design brasileiro. Acho que tem a ver com as nossas casas, nosso estilo de vida. Gosto de ser verdadeiro com os meus clientes e, quando dizem que querem algo específico, os oriento sobre o histórico de cada peça e, compartilho conhecimento. Fazer entender o valor de um móvel original é essencial no processo de escolhas estéticas e, também de investimento.

Uma vez fora do país, quero que os ambientes conversem com o entorno. Na minha concepção, um apartamento em NY bem concebido esteticamente é um belo catálogo do mundo. Por isso, eu queria mobiliário internacional neste caso.

  • Foquei no mid-century e abusei do design francês e italiano dessa época com peças cheias de personalidade e delicadeza ao mesmo tempo. São escolhas pontuais, nada em excesso, tudo bem pensado. O design francês do meio do século passado conversa com todos os estilos. Você pode ter um apartamento todo rococó ou todo clean, ele é coringa.

    Eu não quis usar o sofá curvo aqui, algo clássico dentro da referência francesa. Encontrei o sofá italiano da Living Divani com uma chaise arredondada, uma ilha, porém em cima de linhas retas. Consegui o clima francês que procurava com um visual mais contemporâneo. E, claro, com um tecido confortável que acolhesse os gatos, membros importantes da família sem prejuízos.

Jornalista: A iluminação também é destaque aqui, não? 

FC: Tive a colaboração da arquiteta Tauana Marques, uma arquiteta brasileira que vive em Nova York, neste projeto. E quando a gente começou a pensar na iluminação, eu resolvi dar destaque às luminárias, lustres, arandelas para preencher o espaço, já que obras de arte e objetos decorativos não teriam espaço

  • escolhida foi a da sala de estar, do Sergio Mouille, da década de 1950. Parece uma aranha, enche os olhos funciona como um destaque focal e uma escultura. À noite, quando acesa, chama a atenção de quem passeia pelo High Line. Para o family room, a escolhida foi uma arandela amarela da Charlote Perriand. Na sala de jantar, há uma luminária italiana Foscarini de vidro limpinho, para não brigar com a vizinha da sala de estar. Além disso, também possibilita a vista ao fundo sem se tornar um obstáculo visual, algo essencial para quem escolheu o imóvel também pela vista.

    Nos quartos, a praticidade foi essencial, lembrando da necessidade de luz para leitura e, luz agradável para descanso. Lamp de Marseille, de Le Corbusier, para a filha, e a luminária Otto Watt de Alberto Meda e Paolo Rizzato, da Luceplan, para o casal. 

  • O pedido foi uma mesa de oito lugares. Como a gente tinha um problema de disposição, a mesa maior atrapalharia a circulação. Resolvemos com uma de seis lugares que acomodam mais duas pessoas ocasionalmente, uma vez que vivem apenas três no dia a dia. 

    No living, coloquei também duas poltronas confortáveis com pufes para leitura e contemplação da vista, um verdadeiro cartão-postal de Nova Iorque. 

Jornalista: Eles ganharam uma bela área para receber...

FC: Cuidei disso com muito cuidado, pois foi um dos pedidos iniciais da família. Optei pela mesa redonda, porque acho mais democrática, acolhe mais.

Jornalista: As escolhas para a cozinha foram especiais?

  • para cozinhar, este foi o pedido; então, precisava ser muito bem equipada e, ao mesmo tempo, prática. Comecei a solucionar no projeto. A cozinha era ainda padrão da construtora com uma marcenaria já muito inteligente que mantive e adicionei alguns armários e o espaço para o bar que não tinha. O balcão foi retirado para dar lugar a um buffet por questão de prioridade. Era importante para quem recebe ter um local de apoio para louças e acessórios para mesa posta.

    Precisei equipá-la com todos os equipamentos menores – dos eletrodomésticos às panelas, talheres, copos e pratos. Isso sem esquecer as forminhas de biscoitos, que eles amam preparar. Tudo prático e que pode ir à lava-louça, um pedido repetido muitas vezes e que eu fiquei atento para atender.

Jornalista: Há curadoria Felipe Carolo neste projeto?

FC: Sim. Eu acompanhei essa família desde a busca pelo imóvel até a escolha dos equipamentos e utensílios de cozinha, roupas de cama, banho. Foi um projeto completo do início ao fim. E sou eu o responsável pela manutenção do apartamento, tanto da área estrutural, quanto do que vai dentro do mobiliário. Faço retornos periódicos para manutenção.

Jornalista: Vi uma única obra de arte na entrada. Como foi a escolha dela para este local?

FC: O espaço, disposto como uma art gallery, foi pensado para ser reflexo do entorno, da cidade que acolhe pessoas e cultura do mundo todo. Escolhi nomes internacionais para o mobiliário, mas faltava um quê de brasilidade. Minha cliente adora Tarsila do Amaral e achei que essa tapeçaria representaria muito bem a família. Eles adoraram!

fotos
John Daniel Powers, Gabriela Daltro

Próximo
Próximo

AP BALTAZAR